Um assunto difícil: Dízimos!
Tim Keller (i), sobre uma vida generosa, traz o seguinte depoimento:
“Houve momentos em que as pessoas me procuraram sobre o fato de que no Antigo Testamento existem muitos mandamentos claros que os crentes devem dar 10%. Mas no Novo Testamento, requisitos quantitativos específicos sobre a doação não são tão claros. Eu rapidamente acrescentava: “Vou lhe dizer por que você não vê o requisito do dízimo estabelecido claramente no Novo Testamento. Pense: Hoje recebemos mais da revelação, da verdade e da graça de Deus do que os crentes do Antigo Testamento, ou menos? Geralmente, havia um silêncio desconfortável. Somos mais “devedores”
da graça do que eram ou menos? Jesus ‘dizimou’ sua vida e nos chamou a uma vida de abandono. Logo, 10% pode ser o
mínimo a se doar”.
Conheçamos mais sobre o Dízimo
Antes de Moisés
As primeiras referências explícitas ao dízimo aparecem em Gênesis 14, onde Abraão fala sobre o dízimo a Melquisedeque; e em Gênesis 28, onde Jacó promete dar a Deus “um décimo inteiro”.
Mas de onde veio a ideia do dízimo? As Escrituras apontam, de acordo com Barcley (ii), para Gênesis 26:5, onde Deus disse: “Abraão obedeceu à minha voz e cumpriu minha ordem, meus mandamentos, meus estatutos e minhas leis”. Essa linguagem é quase idêntica às instruções posteriores sobre a lei mosaica e a passagem implica que Deus deu ao seu povo leis além daquelas escritas em Gênesis.
Em Gênesis 4 a primeira família sabia que tinha a responsabilidade de devolver a Deus uma parte do que Ele lhes havia dado. Deus aceitou a oferta de Abel e rejeitou a de Caim.
O Antigo Testamento é claro no que diz respeito ao dever do povo de Deus de retribuir a Ele – e que Ele havia dado instruções sobre o que isso implicava.
Alguns autores sugeriram que Jacó estava oferecendo um dízimo único em Gênesis 28. Mas, como John Currid (iii) observa, o verbo “dízimo” descreve ações frequentes e múltiplas. Jacó parecia estar “assumindo um compromisso vitalício com o Senhor no que diz respeito ao dízimo”.
Por que Moisés registra esses eventos?
Mais tarde ele registraria a ordem de Deus para o povo doar o dízimo em Levíticos e Deuteronômio. Nestas passagens a aparente exigência do dízimo precede a concessão da lei mosaica e não devemos ligar a ela.
Pois tudo é Dele
Quando chegamos à lei, fica claro que o dízimo é o padrão de Deus para a doação. O dízimo nem pertence ao doador, mas ao Senhor (Lev. 27:30 NLT). Sob a lei mosaica, parece haver três dízimos:
- um dízimo regular dado para apoiar os sacerdotes e o trabalho do templo;
- um “dízimo festivo” para a celebração das festas exigidas (cf. Dt 12: 17-19); e
- um “dízimo de caridade”, dado a cada três anos ao levita, ao peregrino, ao órfão e à viúva (Dt 14: 28–29).
Se isso for verdade, os israelitas eram realmente obrigados a dar 23,3% de sua renda, e não 10%. Muitos estudiosos do Antigo Testamento não os veem como três dízimos separados, mas como apenas três usos.
No Novo Testamento os dízimos das festividades desaparecem, porém, a lei moral do sábado permanece e isto também se aplica ao dízimo. O dízimo básico, apoiando a obra do ministério, permanece, mesmo quando os aspectos cerimoniais desaparecem. No entanto, o dízimo é mínimo.
Em Malaquias 3: 6–12 nota-se pelo menos três pontos de repreensão:
- Deus acusa seu povo de “roubá-lo”(3: 8). Isso aponta para o princípio bíblico de que o dízimo pertence Deus.z
- Deus desafia seu povo a testá-lo. O dízimo é sempre uma prova de fé. É grande o suficiente para nos ensinar a viver com menos e administrar melhor os custos, além de nos obrigar a confiar em Deus como provedor.
- Deus promete derramar bênçãos abundantes sobre o seu povo quando dão o dízimo (cf. 2 Cor. 9: 6). Ainda, Barcley, cita que nenhum outro aspecto cerimonial da lei mosaica é condenado dessa maneira, exceto por oferecer sacrifícios corruptos. Deus trata a falta de dízimo como desprezível.
Depois de Jesus
Jesus sustenta o dízimo em Mateus 23:23 (cf. Lucas 11:42). Ele condena os fariseus por seu compromisso tedioso com uma parte da lei de Deus, o dízimo, enquanto negligencia “questões mais importantes como a justiça, misericórdia e fidelidade”. Em seguida, ele afirma: “Você deveria ter feito isso sem descuidar os outros”. Ou seja, Ele não anula o ato de doar o dízimo. A palavra grega traduzida como “dever” ( dei ) indica uma necessidade. Podemos traduzir da seguinte forma: “Você deve fazer essas coisas e não deve negligenciá-las.”
Meu argumento, em poucas palavras, é o seguinte: a vida deve ser vivida em generosidade. No Antigo Testamento era baseado em 10% e no Novo Testamento “vendia-se” tudo [vide Atos 4 – Barnabé; o jovem rico em Mateus 19:21; a mulher de Betânia, em Marcos 14:3, que quebra o vaso e derrama sobre Jesus; Paulo que relembra a contribuição na igreja local em 2º Coríntios 9 e tantos outros casos].
O ponto importante não é fazer por lei ou por barganha, mas sim por gratidão, voluntariedade e desejo de ser corresponsável com a plantação e avanço da igreja, no sentido financeiro. Um amigo costumava dizer: “Alguém sempre paga por nossa cadeira”.
Outro ponto a ser comentado é que os rendimentos financeiros, também, fazem parte da missão do Senhor de sustentar este mundo e de torna-lo melhor, dado a sua provisão graciosa. Por isso trabalhamos e auferimos nossos ganhos ao fim do trabalho e não levamos nada depois que morremos. Isto responde o dilema do trabalho. Se trabalhamos tanto, por que não levamos nada? Pois é para os 3 Cs. Celebar, Construir e Colaborar.
Sua fidelidade é também pessoal
Com 11 anos de idade fui ensinado a doar o dízimo. Lembro que meus pais davam algumas moedas para que eu pudesse aprender. Isto fez muita diferença em minha vida, porém, confesso que em algumas oportunidades eu falhei: – Falhei em não doar; em não ser regular, em querer barganhar e querer reivindicar.
Aos 18, em meu primeiro emprego, lembrava que tinha que praticar isto com alegria e generosidade. Não era apenas o dízimo, mas também havia o desejo de contribuir nas missões da igreja local.
O tempo passou, fiz mestrado e sonhava com cargos nobres no Governo depois de formado em Economia. Agora, talvez você me pergunte: “Dado a isto, você nunca passou nenhuma dificuldade financeira? A resposta é clara: Sim, passei e foram muito duras. O fato de lutar para ser generoso não quer dizer que somos isentos de revezes financeiros e desempregos, mas sim, que temos uma esperança brotada no coração de que Alguém zela por nós.
Aprendi outras coisas também, como o fato da prosperidade, aqui independente do lastro financeiro, advir do trabalho, de uma vida que se gasta menos e do aprender a poupar. Com os Judeus, no Velho Testamento, aprendemos a gastar menos dado a fidelidade pela obediência. No Novo Testamento, aprendemos a fidelidade pela graça, que também requer obediência, e a generosidade porque gastamos menos, ou deveríamos gastar tendo uma vida de menos excessos. Com isto poupamos, contribuímos e crescemos à medida em que o Senhor deseja.
O ponto mais importante desta pequena jornada como Pastor, foi o fato de que quando entendi o chamado ministerial para plantar igrejas, tive de abrir mão de meu emprego como economista e mudar de cidade. Neste ano achei que agora seria sustentado de alguma forma, mas pensava sempre de forma “sobrenatural”. O que aconteceu neste momento de “vacas bem magras – ou em pele e osso?”
Deus mostrou sua fidelidade me dando um novo emprego. Depois de 10 meses, voltei ao mercado trabalho de forma inesperada, reposicionado e dividindo com o trabalho ministerial.
Hoje, 10 anos depois, já na plantação de uma outra igreja em outra grande cidade, continuo experimentando do sustento dele via “o mercado de trabalho formal”, ainda no setor satelital. Por sua misericórdia e graça, também continuo aprendendo a doar dos dízimos e ofertas de todos os trabalhos.
Dias difíceis virão, mas nenhum deles conseguirá superar a fidelidade e o cuidado de Deus conosco.
Espero que isto possa encorajá-los!
Rev. Robson
(i) Tim Keller, More than Money: Tim Keller on How to Live Generously – Generosity: Responding to God’s Radical Grace in Community Kit
(ii) William Barcley, Pastor Senior da Sovereign Grace Presbyterian Church (PCA) in Charlotte, North Carolina, e professor de Novo Testamento na Reformed Theological Seminary.
(iii) John Currid, Professor do Reformed Theological Seminary por 20 anos, em Jackson e professor de Antigo Testamento em Charlotte.