A vida, formação de quem somos e os ‘entãos’.
A vida é marcada por declarações importantes para nossa formação. Desde quem nos educa, aos amigos que temos e às instituições formadoras de opiniões. Mas como assim? Pensem: Como filhos, vocês ouviram palavras sobre quem são, sobre o que podem e não fazer. Como jovens, além dos pais, vocês ouviram e ouvem de seus amigos, das escolas e igrejas. Quando mais velhos, vocês continuam a ouvir por meio de outras interações sociais como faculdade, trabalho e família.
Mas como eles dizem?
Para ficar mais claro, na escola, quando você tirou uma boa nota, indiretamente, você ouviu que era um bom aluno. Na igreja, muitas vezes, ainda que de maneira equivocado, o seu exemplo e seus cargos tendem a dizer que você é um bom cristão. No trabalho, seu salário e promoções estão dizendo que você é um bom trabalhador e por aí adiante. Quando menos esperamos a vida nos apresenta os “entãos” e nestes momentos somos confrontados a colocar em prática aquilo que ouvimos e, é aí que muitos tropeçam por não entender os porquês e os seus efeitos nesta eterna busca por identidade. Logo, nascem assim as temidas crises.
Certamente, como cristãos, quando pensamos em nossa identidade, em quem somos, devemos primeiramente pensar à luz de quem Jesus se tornou por nós e não apenas utilizar definições baseadas em nossas experiências. A participação de Jesus em nossas vidas é o único meio em que nossas identidades são construídas sem que as crises existenciais tenham algum tipo de domínio. Nele, é onde estamos seguros em quem somos, a saber, filhos de Deus.
Agora torna-se importante definir os “entãos”.
Por eles, podemos entender os desertos de nossas vidas. Por desertos, por sua vez, podemos entender os momentos de desolação. Porém, jamais devemos achar que estes momentos são dirigidos por Satanás (Mateus 4:1, Romanos 8:2). Os desertos são os “entãos” da vida que existem dado ao pecado em nós e, também, a escola da graça onde encontramos com um Jesus que sofreu as severas desolações e as superou em nosso lugar.
Nestes caminhos áridos da vida somos levados pelo Espírito Santo a colocar em prática nossa identidade, por meio da fé. Durante a caminhada aparecem várias miragens tentando nos persuadir a deixar de lado quem realmente somos. Satanás aparece nos “entãos” para amplificar os pulsos pecaminosos em nossos corações, nos tentando a desacreditar que nosso Pai nos sustenta com sua palavra, nos protege e é o único a ser adorado enquanto caminhamos. Só conseguimos adorar um Deus, que nos envia aos desertos da vida, que permite que Satanás nos tente (Jó 1:12), quando temos a certeza de que somos seus filhos amados. Esta é uma verdade poderosa em que você deve se agarrar.
Os ataques de Satanás face aos ‘entãos’ da vida.
Tudo o que Satanás deseja é que deixemos de acreditar na relação defensora, afetiva e transformadora de um Deus-Pai Criador, justo, amoroso e santo com o homem-criado que, dado ao pecado, se tornou injusto, desafetuoso e impuro. O Catecismo de Westminster cita que somos justificados (defendidos), adotados (amados) e santificados (transformados) pela fé e de forma gratuita. Esta é nossa identidade que regenerada pela substituição de Jesus e aplicada pelo Espírito Santo em nós.
Jesus não conquistou apenas uma posição ante ao Pai, mas as afeições do Pai e a purificação do Pai sobre nossos desejos. O poder da regeneração sobre nós é o que nos faz enfrentar os “entãos” da vida, superar os ataques de Satanás e no fim, ainda adorar ao Pai. O poder da regeneração se deve ao fato do Espírito Santo assumir quem somos, independente de quem pensamos ou desejamos ser.
Ante aos “entãos” da vida sofremos ataques diários e caímos na tentação de pedir provas de amor ao invés de simplesmente acreditar no amor. Importa dizer que só pede prova de amor quem duvida de quem diz que o ama. Isto é o que Satanás deseja para você: a dúvida de que você é um filho amado de Deus.
Uma pessoa perdida em sua identidade, sempre será uma presa fácil para os vendedores de identidades falsas (1 Timóteo 4:1). Uma pessoa que não entende quem ela é em Jesus, cairá nas tentações de Satanás (1 João 5:18) e passará por momentos aterrorizantes, ainda que no fim o Senhor a possa livrar e salvar (1 Coríntios 5:5).
Como se deve viver ante aos “entãos” da vida?
Para evitar que a crise existencial domine sobre os homens, Deus enviou seu filho para reorganizar nossa identidade, vivendo nossa vida, sendo quem jamais nós poderíamos ser, sofrendo e morrendo em seu lugar, vencendo o mal por você, subindo aos céus e enviando o Espírito Santo para que tenhamos a certeza de que somos Filhos Amados de Deus.
Assim, Jesus ao ser batizado viu o Espirito de Deus descendo sobre e ouviu neste momento uma uma voz que ressoou no universo e fora repetida várias vezes nas escrituras. Uma declaração bela de amor de Pai para Filho, que todos nós, como filhos, desejamos ouvir e, como pais, jamais conseguiremos expressar. Deus disse a Jesus: “Eis o meu filho amado, em quem me agrado” (Mateus 3:17). Após ter dito isto, o Espírito conduziu Jesus ao deserto. O interessante é que Mateus faz questão de juntar as duas cenas, a de amor no Batismo e a de amor no Deserto. Mateus usa a expressão “então”, logo após registrar o amor do Pai sobre Jesus. Parece algo contraditório. Como um pai que diz que ama, pode conduzir o filho ao deserto onde seria tentado? A resposta para isto é: Por causa de você! Jesus, para te substituir, teve que viver a vida que você vive. A doutrina da encarnação e da expiação só faria sentido se Jesus, o filho de Deus, se tornasse homem e vivesse a vida que hoje vivemos, porém, sem pecado algum.
Quando Jesus é conduzido ao deserto Ele teve um encontro com Satanás. Isto marcaria o início do ministério de Jesus, pois as palavras “Eis o meu filho amado”, referindo ao Salmos 2:7, como um Rei e “a quem tenho prazer”, referindo a Isaias 53:11, com servo sofredor, seriam reunidas pela primeira vez no deserto, ante ao encontro com Satanás.
Ao encontrar com Satanás, Jesus, como Rei, não poderia destruí-lo e destruir todo o mal. Caso tivesse feito isto, sofreríamos toda ira e seríamos destruídos também. Como Rei, Jesus não veio destronar Satanás ocupando um trono na terra, mas destroná-lo ocupando o nosso lugar numa horrenda cruz. Jesus é o Deus que sofreu a vida de um homem mortal.
Neste “então” da vida de Jesus foi marcado por um encontro com Satanás. Aqui inicia a vida de sofrimento Dele. Em que área? Em sua identidade. Quer saber mais? Lembre-se dos religiosos da época que pediram a morte de Jesus. Qual era o motivo? A identidade! Ele afirmava ser Filho de Deus. Entende a importância de saber quem você é acreditar nisto? Este entendimento é algo que jamais você deve perder e será o ponto de sua tentação.
Saiba que todos nós passamos por tentações e desertos e, por isso Ele teve de passar. O Vicarius Christi ( Cristo Substituto) não é apenas visto na Cruz, mas em toda a sua vida na terra. A vida que Ele vive, a morte que Ele morre e a vida que Ele toma de volta é também a vida que vivemos hoje.
“pois não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas, mas sim alguém que, como nós, passou por todo tipo de tentação, porém, sem pecado. Assim, aproximemo-nos do trono da graça com toda a confiança, a fim de recebermos misericórdia e encontrarmos graça que nos ajude no momento da necessidade”.( Hebreus 4:15-16)
Crer que Jesus não apenas nos substitui na cruz é a chave para viver ante aos “entãos” da vida. Muitos Cristãos lidam, apenas, com o fato de Jesus ter morrido na cruz, mas dificilmente com o fato de que Ele conquistou nossa justificação e, ainda o mais difícil, conquistou a afeição do Pai sobre nós. Por isso, a frase “Eis o meu filho amado, em quem me agrado” também ecoa em seu coração que agora é dominado pela graça divina.
Isto é incrível, não é? Deus te ama mais do que você imagina. Ele te ama porque Jesus te substituiu em tudo. Acreditar nisto, te levará a experimentar de um profundo amor paternal, sentimento de amparo, gratidão e proteção. Você realmente é um filho amado de Deus! Jesus tornou sua filiação verdadeira! Agora, confie neste amor sem pedir provas e ore as palavras de Jesus: “Pai livre nos do mal”.
Amém.